Ontem estive no Palácio Galveias, num encontro membros de um clube de leitores, dinamizado por Ana Jardim, que me convidou pessoalmente, depois da aprovação e leitura por parte de todos. O livro escolhido foi Maria Adelaide Coelho da Cunha: «doida não e não!»
Tenho pena de não poder evocar os nomes das pessoas presentes. A memória anda muito sobrecarregada. Em todo o caso, a conversa foi adorável e o diálogo fluíu do coração. Alguns dos que não puderam estar -- férias, trabalho -- mandaram emails que foram lidos por Ana Jardim, com observações pertinentes e perguntas. Curiosamente, amemórias dos presentes cruzam-se de forma indirecta com a história de Adelaide Coelho. Uma das leitoras viveu nas proximidades do palácio. E recorda como todos, na vizinhaça, se lhe referiam sempre como «a casa da Senhora de São Vicente». Tantos e tantos anos depois. As histórias de vida de algumas outras, também encontravam paralelo na vida de Maria Adelaide. «Dava uma ópera», comentou Ana Jardim, querendo saber a minha opinião.
Que posso dizer? O livro já não me pertence. Cada leitor o faz seu.
Biblioteca Municipal Central – Palácio Galveias
quinta-feira, julho 22, 2010
quarta-feira, julho 21, 2010
África nossa
Ontem um jantar. Três amigas que se reencontraram há muito pouco tempo. A Carmo, a Isabel, eu. E a Marta, que nasceu em Luanda mas veio para Portugal ainda não tinha feito três anos.
Angola omnipresente nas nossas estórias por onde desfilaram pessoas, lugares, acontecimentos. Passaram tantos anos e as recordações, quando as evocamos, permanecem esmaltadas de luz. Até as noites escuras têm um brilho ofuscante quando se reconstroiem nas nosssas palavras e risos. Tantos risos. Rimo-nos mesmo a chorar os mortos, que é a forma como os mortos mais gostam de ser recordados. Essa é uma das grandes liçoes de sabedoria primordial que bebi em África. Bendita Terra-mãe. A outra é que a vida é uma viagem. Curta. Cabe-nos torná-la esplêndida. Ontem, de novo, esta noção acordou os nossos sentidos.
Há poucos meses, na internet. Crianças e adolescentes retomam laços de proximidade. Temos todos entre 12 e 16 anos e vivemos na cidade mais quente do mundo. Tete, Moçambique, nas margens escuras do rio Zambeze. Há um jardim tropical, belíssimo e sofucante, onde as noites ganhavam uma aura mágica. Uma mesquita, a primeira que vi na minha vida. E um colégio-liceu, onde andamos todos. Ali, onde o meu pai dá aulas de matemática e fisico-químicas, a minha mãe de música. Estão, os dois, em processo de separação litigiosa. Nao existe divórcio entre «católicos apostólicos romanos». E isto decorre numa terra minúscula onde todos, todos, todos, se conhecem e se encontram todos, todos, todos os dias.
Uma dessas jovens de 14 anos, anda por aí activíssima. Lançou redes luxuriantes com fotos de antes e depois, restabeleceu contactos, e disponibilizou-os neste cérebro colectivo que é a internet,. Entre blogues e FB transformou-se na guardiã das nossas memórias comuns. Tem vários espaços onde revemos fragmentos das, dos jovens que somos tantos anos atrás. É a Mimi Teixeira, e aqui fica o link para um dos seus jardins.
Outro encontro FB: na página do colégio D. António Barroso também linkado, onde estive dois anos. Interna. Cruzando os céus de Moçambique, entre Vila Cabral e Lourenço Marques, nos regressos de férias ou de partida para novo período de aulas. Gloriosamente entregue à minha própria pessoa, entre mudanças de aviões e aeroportos, durante um dia inteiro que sabia a liberdade total.
O colégio, porém, tinha grades. Mas a qualidade de ensino jamais esquecerei. Na sua página criada por uma antiga aluna, revejo algumas condiscipulas cujo rasto perdi. A lista cresce cada vez mais.
Não encontro palavras para a alegria destes reencontros todos.
Angola omnipresente nas nossas estórias por onde desfilaram pessoas, lugares, acontecimentos. Passaram tantos anos e as recordações, quando as evocamos, permanecem esmaltadas de luz. Até as noites escuras têm um brilho ofuscante quando se reconstroiem nas nosssas palavras e risos. Tantos risos. Rimo-nos mesmo a chorar os mortos, que é a forma como os mortos mais gostam de ser recordados. Essa é uma das grandes liçoes de sabedoria primordial que bebi em África. Bendita Terra-mãe. A outra é que a vida é uma viagem. Curta. Cabe-nos torná-la esplêndida. Ontem, de novo, esta noção acordou os nossos sentidos.
Há poucos meses, na internet. Crianças e adolescentes retomam laços de proximidade. Temos todos entre 12 e 16 anos e vivemos na cidade mais quente do mundo. Tete, Moçambique, nas margens escuras do rio Zambeze. Há um jardim tropical, belíssimo e sofucante, onde as noites ganhavam uma aura mágica. Uma mesquita, a primeira que vi na minha vida. E um colégio-liceu, onde andamos todos. Ali, onde o meu pai dá aulas de matemática e fisico-químicas, a minha mãe de música. Estão, os dois, em processo de separação litigiosa. Nao existe divórcio entre «católicos apostólicos romanos». E isto decorre numa terra minúscula onde todos, todos, todos, se conhecem e se encontram todos, todos, todos os dias.
Uma dessas jovens de 14 anos, anda por aí activíssima. Lançou redes luxuriantes com fotos de antes e depois, restabeleceu contactos, e disponibilizou-os neste cérebro colectivo que é a internet,. Entre blogues e FB transformou-se na guardiã das nossas memórias comuns. Tem vários espaços onde revemos fragmentos das, dos jovens que somos tantos anos atrás. É a Mimi Teixeira, e aqui fica o link para um dos seus jardins.
Outro encontro FB: na página do colégio D. António Barroso também linkado, onde estive dois anos. Interna. Cruzando os céus de Moçambique, entre Vila Cabral e Lourenço Marques, nos regressos de férias ou de partida para novo período de aulas. Gloriosamente entregue à minha própria pessoa, entre mudanças de aviões e aeroportos, durante um dia inteiro que sabia a liberdade total.
O colégio, porém, tinha grades. Mas a qualidade de ensino jamais esquecerei. Na sua página criada por uma antiga aluna, revejo algumas condiscipulas cujo rasto perdi. A lista cresce cada vez mais.
Não encontro palavras para a alegria destes reencontros todos.
terça-feira, julho 20, 2010
Fractais: «o que está por baixo é igual ao que está por cima»
Estávamos à volta da revisão da terceira aventura e a palavra fractal era a única possível para descrever o jardim infinito, infinitamente desdobrado dentro de si mesmo que culminava num labirinto. O «nosso» André passeava por ali. Uma imagem veio-me à cabeça: «bróculos». Acrescentei-lhe uma explicação básica sobre o conceito. A Rosarinho, editora responsável pela secção infanto/juvenil da Oficina do Livro, ficou satisfeita. De resto, para o desenrolar da história não era importante aprofundar, até porque o próprio André desliga quando o Senhor Leandro aparece e começa a debitar ciência, prestando atenção a outros aspectos do intrigante homenzinho, cuja mala de médico é um poço infinito de possibilidades...
Pois bem, aqui, numa linguagem perfeita e com imagens de cortar a respiração, estão os Fractais. Pedaços de um todo que é infinito e que se copia a si mesmo em todos os seus fragmento, infinitamente, em réplicas perfeitas, belíssimas e perturbantes. Cada vez mais pequenas. Ou como há milénios se afirmava, por puro conhecimento de causa transcendente, «o que está em baixo, é igual ao que está em cima».Créditos: Fotos de Human Angels - FRACTALS, the part is the All
sábado, julho 17, 2010
O último cigarro
Uma bela mulher fuma. Não é um cigarro qualquer. É último, diz ela. Passo a passo, recria o ritual de um prazer que desde a Nouvelle Vague nos 60, ou Hollywood, década de ouro, a de quarenta, não assumia tamanha sedução. Sabemos que o ritual é encenado. O prazer, porém, é genuíno. A mulher fuma o cigarro -- não é o cigarro que a fuma a ela. A sua volúpia é consciente e absolutamente genuína. Os seus gestos irradiam segurança. O vício - e seus guarda-costas, automatismo, sofreguidão e ansiedade -,
não é para aqui chamado. Esta mulher está ao comando. Não há qualquer afinidade entre o cigarro que ela decidiu fumar e o último cigarro de um condenado qualquer. E é por puro narcisismo que nos toma, a todos nós, por testemunhas. Depois deixa-nos um cinzeiro quase imaculado. Dentro dele, o «último cigarro». Partido. Ardeu o suficiente, sem chegar completamente ao fim. Entretanto, a boca vermelha tatuou-o.
Terá sido realmente, o último? Nem pensem sequer perguntar-lhe. Ela já se foi embora.
Nota: a partir de Rita Barros, The Last Cigarette,
Exhibiton from June 5th- through July 18, 2010, at Ermida N. Sra da Conceição - Belém, Portugal

Terá sido realmente, o último? Nem pensem sequer perguntar-lhe. Ela já se foi embora.
Nota: a partir de Rita Barros, The Last Cigarette,
Exhibiton from June 5th- through July 18, 2010, at Ermida N. Sra da Conceição - Belém, Portugal
quinta-feira, julho 15, 2010
Beatriz e o xamanismo cibernético

Quando isso não acontecia, ficava desolada. Houve alturas em que foi necessário telefonar ou mandar um sms: «liga-te ao skype, a tua sobrinha está de rastos.» Estabelecida a comunicação, ela exultava. Não há outra palavra para defenir a alegria e o assombro em que mergulhava. Quando ela se materializava, a Beatriz não lhe achava a mesma graça. E ainda não acha. Afinal de contas, fora do ecrã é uma tia como as outras.
Agora a Susana está de férias em Portugal e as duas vêm-se com muita frequência. Mas a Beatriz, que ainda acredita que ela é mágica e vive nas misteriosas entranhas de um mackintosh, do qual entra e sai sempre que lhe apetece, só fica verdadeiramente em êxtase quando comunicam pelo skype. Nessa altura, a comunicação entre ambas sobe para outro patamar. É puro xamanismo cibernético.
terça-feira, julho 13, 2010
Maria Adelaide Coelho voltou ao Conde de Ferreira
Maria Adelaide também esteve na assistência, na memória dos que ainda conviveram com ela: Maria Elisa Seara Cardoso Perez, que recorda o seu carisma vivíssimo e a sua inteligência superior, trazia na carteira o espelho de prata que «A senhora dona Adelaide me ofereceu pelo meu casamento. A minha mãe e ela foram grandes amigas. E eu continuei essa amizade.»
Comovidíssimo, José Manuel Cardoso, sobrinho direito de Manuel Claro, que viveu com o casal até aos cinco anos de idade (e que guarda memórias indeléveis daquela tia maravilhosa, tão diferente de todas as pessoas que conhecia), mal conseguia conter a emoção. E Clara Maria Braga da Cruz Mendes Ferrão, dona do palácio de S. Vicente, onde ainda se conserva grande parte da documentação preciosa que utilizei para escrever a sua biografia. Estava ali, escondida, desde os tempos de Alfredo da Cunha que acumulou todo este material, e foi descoberta quando em 2001 começaram as obras de restauro: «Esta história tem de ser contada», disse-me a Clara mal tinhamos acabado de nos conhecer. «É preciso fazer justiça.»
A justiça que Adelaide invocou quando entrou para aqui, há quase cem anos, por «crime de amor» e esteve isolada no Pavilhão das Criminosas. Por duas vezes. Sem voz, sem meios, sequestrada e tratada de forma profundamente cruel, Maria Adelaide Coelho jurou que ia provar A TODOS não ser doida, levasse o tempo que levasse. Nem que fosse a sua vida inteira. Demorou mais, mas foi a tempo de o fazer na presença de algumas das pessoas que ainda a conheceram e amaram.
Antes disso, porém, venceu a primeira batalha. A da liberdade. Depois, viveu plenamente por muitos e bons anos. Ao lado de Manuel Claro.
domingo, julho 04, 2010
O céu não é perfeito
Deuses entram em guerra uns contra os outros.
Anjos zangam-se e separam-se. Alguns até choram.
Nessas alturas, as portas do céu fecham-se e nós não podemos fazer nada.
Nota: a propósito da separação entre Madredeus e Teresa Salgueiro.
Anjos zangam-se e separam-se. Alguns até choram.
Nessas alturas, as portas do céu fecham-se e nós não podemos fazer nada.
Nota: a propósito da separação entre Madredeus e Teresa Salgueiro.
O comando da nossa televisão

Agora, mudar de canal, subir o som ou baixá-lo obriga a manobras complicadas que se auto excluem. Mudar de canal, por exemplo, pode resultar em ir parar ao video desligado. Além disso não é prático, porque obriga a levantar do sofá muitas vezes. Temos um mamarracho enorme, que ainda não trocámos por causa das mudanças no sistema de captação e difusão das imagens que vao implicar novos aparelhos.
Como ver televisão, cá em casa, é um desporto que só começa à noite, com o telejornal, e segue com as séries da RTP2 (antes e depois das notícias), o sistema começa a tornar-se perfeito. Por inércia, ninguém corre para as minúsculas filas de botões escondidos no receptor. Ver videos é impossível: o formato come as legendas e não dá para corrigir, como

As pilhas de livros que tenho de ler e reler, o tempo para conversar ou simplesmente pensar, aumentou substancialmente. Já passaram quinze dias sobre o «acidente» ao qual já nem nos referimos. É implícito que tudo vai continuar assim, e estamos de acordo que é um sossego.
sexta-feira, julho 02, 2010
Encontrou-se um livro
Ah que bom. Afinal continua cá. O meu livro que julguei ter perdido. Vou começar dentro de poucas semanas. Já o amo, apesar do trabalho todo que me vai dar concebê-lo e executá-lo.
Uma alegria.
Uma alegria.
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