Maria Adelaide também esteve na assistência, na memória dos que ainda conviveram com ela: Maria Elisa Seara Cardoso Perez, que recorda o seu carisma vivíssimo e a sua inteligência superior, trazia na carteira o espelho de prata que «A senhora dona Adelaide me ofereceu pelo meu casamento. A minha mãe e ela foram grandes amigas. E eu continuei essa amizade.»
Comovidíssimo, José Manuel Cardoso, sobrinho direito de Manuel Claro, que viveu com o casal até aos cinco anos de idade (e que guarda memórias indeléveis daquela tia maravilhosa, tão diferente de todas as pessoas que conhecia), mal conseguia conter a emoção. E Clara Maria Braga da Cruz Mendes Ferrão, dona do palácio de S. Vicente, onde ainda se conserva grande parte da documentação preciosa que utilizei para escrever a sua biografia. Estava ali, escondida, desde os tempos de Alfredo da Cunha que acumulou todo este material, e foi descoberta quando em 2001 começaram as obras de restauro: «Esta história tem de ser contada», disse-me a Clara mal tinhamos acabado de nos conhecer. «É preciso fazer justiça.»
A justiça que Adelaide invocou quando entrou para aqui, há quase cem anos, por «crime de amor» e esteve isolada no Pavilhão das Criminosas. Por duas vezes. Sem voz, sem meios, sequestrada e tratada de forma profundamente cruel, Maria Adelaide Coelho jurou que ia provar A TODOS não ser doida, levasse o tempo que levasse. Nem que fosse a sua vida inteira. Demorou mais, mas foi a tempo de o fazer na presença de algumas das pessoas que ainda a conheceram e amaram.
Antes disso, porém, venceu a primeira batalha. A da liberdade. Depois, viveu plenamente por muitos e bons anos. Ao lado de Manuel Claro.
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