Uma bela mulher fuma. Não é um cigarro qualquer. É último, diz ela. Passo a passo, recria o ritual de um prazer que desde a Nouvelle Vague nos 60, ou Hollywood, década de ouro, a de quarenta, não assumia tamanha sedução. Sabemos que o ritual é encenado. O prazer, porém, é genuíno. A mulher fuma o cigarro -- não é o cigarro que a fuma a ela. A sua volúpia é consciente e absolutamente genuína. Os seus gestos irradiam segurança. O vício - e seus guarda-costas, automatismo, sofreguidão e ansiedade -, não é para aqui chamado. Esta mulher está ao comando. Não há qualquer afinidade entre o cigarro que ela decidiu fumar e o último cigarro de um condenado qualquer. E é por puro narcisismo que nos toma, a todos nós, por testemunhas. Depois deixa-nos um cinzeiro quase imaculado. Dentro dele, o «último cigarro». Partido. Ardeu o suficiente, sem chegar completamente ao fim. Entretanto, a boca vermelha tatuou-o.
Terá sido realmente, o último? Nem pensem sequer perguntar-lhe. Ela já se foi embora.
Nota: a partir de Rita Barros, The Last Cigarette,
Exhibiton from June 5th- through July 18, 2010, at Ermida N. Sra da Conceição - Belém, Portugal
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