segunda-feira, novembro 25, 2013

As mãos de Fátima

Ela perguntou-me: o que guardas no silêncio entre as palavras? Porque é o não-dito que me falta e que te falta. Depois, pousou as suas belas mãos de dedos escuros sobre o tampo escuro da mesa e deixou-as ali como se fossem pássaros que tivessem acabado de chegar de muito longe. As belas mãos da minha amiga Fátima.

Noite fria de Lisboa de muito límpido luar. A sala quente, animada, aberta sobre a rua ingreme. As conversas em várias línguas. O par, ao nosso lado, trocando beijos porque ao lado deles, de volta deles, não havia ninguém. Só a noite deles.

Quando o copo cheio ficou vazio, entendi.

O que guardo, ainda não sei bem. O que está por dizer, já conheço. Agora, é voltar atrás mais uma vez. E arrostar com aquela vastidão e plenitude que nos devorava a alma. Disso, lembro-me. E da sensação de desamparo e maravilha perante a imensidão da terra e do mar, e dos lagos e dos rios, e da minha estranheza de estranha, e da minha ignorância de ignorante. É que, pelos menos nós, andávamos dentro de gaiolas cuja porta só se abria de improviso durante um tempo tão incerto, que nunca chegava para percebermos que estávamos livres, nem para sentir andávamos presos.

Tenho de voltar aí. Preciso de encontrar a palavra certa para fazer a viagem.

De ida e de volta.
 

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