De segunda a sexta-feira, na RUM - Rádio Universitária do Minho - no programa «Leitura em dia» uma sugestão de leitura, com António Ferreira e Sérgio Xavier. Recentemente, o programa distinguiu novamente um dos meus livros, neste caso Moçambique para a Mãe se lembrar como foi, considerando-me uma «repetente nestas emissões pelas melhores razões», segundo palavras de António Ferreira que continuo a citar:
«É uma repetência por boas razoes. A qualidade literária não fica acantonada em géneros ou subgéneros. Este é um registo memorialístico, e, neste caso muito particular, uma homenagem muito sensível e terna à mãe da autora, com noventa e quatro anos [...] Normalmente estes livros de memórias também têm a ver com aqueles designados retornados ou regressados das ex-colónias portuguesas, nomeadamente, ou principalmente de Angola e Moçambique, uma espécie de recordar o paraíso perdido. Havia liberdade, uma espécie de largueza comportamental, moral e ética, coisa que na Metrópole, em Portugal, não acontecia. O país era muito fechado, cinzento, carregado de moralismos, E depois a Pide, o aparelho repressivo do Estado, fazia-se presente de uma forma acentuada e intensa, que tolhia qualquer movimento.»
[...] Manuela Gonzaga - ela é natural do Porto, é escritora, autora de vários livros. em termos académicos é Mestre em história dos Descobrimentos e Expansão Portuguesa, pela Universidade Nova de Lisboa, e é investigadora associada ao Centro de Historia de Além-Mar também da mesma universidade. Viveu em Moçambique, e em Angola, grande parte, ou pelo menos uma parte da sua adolescência e juventude.» [...] Manuela Gonzaga faz isto muito bem, não se submete àquele ressabiamento que é muito típico dos retornados, com uma componente ideológica muito forte, muitas vezes conservadora, aliás, reacionária, abandonados por todos, condenados que deixaram tudo para trás. Neste caso, é para a Mãe se lembrar como foi. [...] Esta viagem inicia-se em Lisboa, a 31 de Agosto de 1964. É o crescimento de uma mulher, de uma rapariga [...] faz os estudos em varias cidades, em Tete, depois na Beira, antes em Lourenço Marques, uma cidade belíssima, segundo a autora.
Tudo isto retratado e caldeado com um acervo de bibliografia, documentos, que aparece no final, e dá para perceber o que é a essência, a integridade de uma mulher, de duas mulheres no caso, os outros irmãos aparecem, mas de uma forma mais lateral, a mãe que foi sempre uma mulher digna e independente, que quis sempre lutar pelos seus objectivos, assim como a autora que depois tem pormenores deliciosos, só lendo o livro.[...] deixamos apenas uma pequena nota, que são as cartas da «Coluna em Marcha» de um suposto oficial das tropas portuguesas a relatar as incidências do dia a dia, dos combates contra a Frelimo.
[...] um excelente livro, uma memória que faz jus de facto a essa memória, sem qualquer tipo de vinganças, perante o desejo de construir uma vida de forma independente que foi o caso da família de Manuela Gonzaga.»
Para ouvir integralmente - o que é sempre mais interessante:
http://podcast.rum.pt/uploads/Leitura/Leitura_em_Dia-2014-07-29.mp3
«É uma repetência por boas razoes. A qualidade literária não fica acantonada em géneros ou subgéneros. Este é um registo memorialístico, e, neste caso muito particular, uma homenagem muito sensível e terna à mãe da autora, com noventa e quatro anos [...] Normalmente estes livros de memórias também têm a ver com aqueles designados retornados ou regressados das ex-colónias portuguesas, nomeadamente, ou principalmente de Angola e Moçambique, uma espécie de recordar o paraíso perdido. Havia liberdade, uma espécie de largueza comportamental, moral e ética, coisa que na Metrópole, em Portugal, não acontecia. O país era muito fechado, cinzento, carregado de moralismos, E depois a Pide, o aparelho repressivo do Estado, fazia-se presente de uma forma acentuada e intensa, que tolhia qualquer movimento.»
[...] Manuela Gonzaga - ela é natural do Porto, é escritora, autora de vários livros. em termos académicos é Mestre em história dos Descobrimentos e Expansão Portuguesa, pela Universidade Nova de Lisboa, e é investigadora associada ao Centro de Historia de Além-Mar também da mesma universidade. Viveu em Moçambique, e em Angola, grande parte, ou pelo menos uma parte da sua adolescência e juventude.» [...] Manuela Gonzaga faz isto muito bem, não se submete àquele ressabiamento que é muito típico dos retornados, com uma componente ideológica muito forte, muitas vezes conservadora, aliás, reacionária, abandonados por todos, condenados que deixaram tudo para trás. Neste caso, é para a Mãe se lembrar como foi. [...] Esta viagem inicia-se em Lisboa, a 31 de Agosto de 1964. É o crescimento de uma mulher, de uma rapariga [...] faz os estudos em varias cidades, em Tete, depois na Beira, antes em Lourenço Marques, uma cidade belíssima, segundo a autora.
Tudo isto retratado e caldeado com um acervo de bibliografia, documentos, que aparece no final, e dá para perceber o que é a essência, a integridade de uma mulher, de duas mulheres no caso, os outros irmãos aparecem, mas de uma forma mais lateral, a mãe que foi sempre uma mulher digna e independente, que quis sempre lutar pelos seus objectivos, assim como a autora que depois tem pormenores deliciosos, só lendo o livro.[...] deixamos apenas uma pequena nota, que são as cartas da «Coluna em Marcha» de um suposto oficial das tropas portuguesas a relatar as incidências do dia a dia, dos combates contra a Frelimo.
[...] um excelente livro, uma memória que faz jus de facto a essa memória, sem qualquer tipo de vinganças, perante o desejo de construir uma vida de forma independente que foi o caso da família de Manuela Gonzaga.»
Para ouvir integralmente - o que é sempre mais interessante:
http://podcast.rum.pt/uploads/Leitura/Leitura_em_Dia-2014-07-29.mp3