Em mensagens privadas, Henrique Salles Fonseca, amigo recente das redes sociais, cuja escrita muito aprecio, tem-me dado conta do maravilhamento com que leu e releu vários trechos do meu livro Moçambique para a mãe se lembrar como foi. que publicou no seu blogue. Como este:
«Lourenço Marques! A cidade das acácias e dos jacarandás, das palmeiras e das casuarinas debruçadas sobre a baía do Espírito Santo, enfeitada de luzes, geométrica e febril, a explodir de vitalidade e a crescer todo0s os dias, cuja visão, quando o avião começava a sobrevoá-la, me enchia os olhos de lágrimas. A perspectiva de irmos viver para lá era tão exultante que me tirava o ar. Não me lembro sequer dos últimos tempos na cidade do Zambeze.
Na expectativa da mudança, tornara-me até indiferente à beleza singular de uma paisagem que, julgava eu, esqueceria para sempre no momento em que lhe virasse as costas sem poder imaginar que, anos depois, a sua ausência se transformaria numa presença irredutível, calorosa e comovedora. E sem poder imaginar também que pessoas que nunca esqueci jamais me esqueceriam também e que me viriam ajudar muitos anos depois com a sua presença cálida e a sua amizade incólume, a refazer o puzzle da minha vida partida em pedaços, a cada mudança de lugar.
Por essa altura, havia um homem novo na minha vida. Dele sabia tudo, embora o tudo que sabia dele fosse muito pouco. Acima de tudo, tocou-me a sua alma marcada pela varíola da guerra e da solidão. Tinha histórias para contar e começou a conta-las nas páginas de um jornal de Lourenço Marques, angariando rapidamente uma legião de fãs cujas cartas aguardavam no Notícias de Lourenço Marques, ao cuidado do director do suplemento literário, que o anónimo oficial português a quem eram dirigidas as fosse levantar. Um volume de missivas que crescia à medida que as crónicas, que foram poucas, iam sendo publicadas nas páginas da Coluna em Marcha, um suplemento concebido e dirigido por Guilherme de Melo, na sequência das suas famosas reportagens de guerra, ainda em 1968.
Se eu amava aquele homem? Que pergunta tão estranha. Ainda hoje não sei responder. Enquanto existiu, a nossa foi uma relação secreta, constante e de uma intimidade total. Nesses tempos, pensava nele horas sem fim, sabendo que mesmo a dormir ele estava comigo. É curioso: ainda hoje não consigo descrevê-lo fisicamente. Recordo, porém, como as mãos me tremiam quando lia as suas crónicas publicadas. Crónicas que não discutia com ninguém, embora e mesmo em minha casa, todos o lessem, falassem dele e se especulasse posteriormente em torno da sua previsível morte, quando, tão de repente como apareceu, deixou de publicar. Sem nenhuma justificação. Desaparecendo, pura e simplesmente. Em todo o caso e enquanto durou, a nossa foi uma relação de corpo e alma.
Na verdade, aquele homem era…»
Na expectativa da mudança, tornara-me até indiferente à beleza singular de uma paisagem que, julgava eu, esqueceria para sempre no momento em que lhe virasse as costas sem poder imaginar que, anos depois, a sua ausência se transformaria numa presença irredutível, calorosa e comovedora. E sem poder imaginar também que pessoas que nunca esqueci jamais me esqueceriam também e que me viriam ajudar muitos anos depois com a sua presença cálida e a sua amizade incólume, a refazer o puzzle da minha vida partida em pedaços, a cada mudança de lugar.
Por essa altura, havia um homem novo na minha vida. Dele sabia tudo, embora o tudo que sabia dele fosse muito pouco. Acima de tudo, tocou-me a sua alma marcada pela varíola da guerra e da solidão. Tinha histórias para contar e começou a conta-las nas páginas de um jornal de Lourenço Marques, angariando rapidamente uma legião de fãs cujas cartas aguardavam no Notícias de Lourenço Marques, ao cuidado do director do suplemento literário, que o anónimo oficial português a quem eram dirigidas as fosse levantar. Um volume de missivas que crescia à medida que as crónicas, que foram poucas, iam sendo publicadas nas páginas da Coluna em Marcha, um suplemento concebido e dirigido por Guilherme de Melo, na sequência das suas famosas reportagens de guerra, ainda em 1968.
Se eu amava aquele homem? Que pergunta tão estranha. Ainda hoje não sei responder. Enquanto existiu, a nossa foi uma relação secreta, constante e de uma intimidade total. Nesses tempos, pensava nele horas sem fim, sabendo que mesmo a dormir ele estava comigo. É curioso: ainda hoje não consigo descrevê-lo fisicamente. Recordo, porém, como as mãos me tremiam quando lia as suas crónicas publicadas. Crónicas que não discutia com ninguém, embora e mesmo em minha casa, todos o lessem, falassem dele e se especulasse posteriormente em torno da sua previsível morte, quando, tão de repente como apareceu, deixou de publicar. Sem nenhuma justificação. Desaparecendo, pura e simplesmente. Em todo o caso e enquanto durou, a nossa foi uma relação de corpo e alma.
Na verdade, aquele homem era…»
NOTA:
Se o leitor quiser saber quem era o homem, terá que ler o livro. Tem na bibliografia a referência da página.
Agosto de 2014
Henrique Salles da Fonseca
BIBLIOGRAFIA: «Moçambique – Para a mãe saber como foi», Bertrand Editora, 1ª edição, Junho de 2014, pág. 233 e seg.
Se o leitor quiser saber quem era o homem, terá que ler o livro. Tem na bibliografia a referência da página.
Agosto de 2014
Henrique Salles da Fonseca
BIBLIOGRAFIA: «Moçambique – Para a mãe saber como foi», Bertrand Editora, 1ª edição, Junho de 2014, pág. 233 e seg.
Retirado de «Repórter de guerra»: http://abemdanacao.blogs.sapo.pt/reporter-de-guerra-1248368 - extracto publicado no blogue A Bem da Nação
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