quarta-feira, dezembro 09, 2015

Os nossos dias de 'A vida é bela'

Quando se fala de refugiados, é-me impossível esquecer que também fui um deles. Era uma vez um tempo em que as pessoas de quem esperávamos todo o apoio nos fechavam o coração, e desconhecidos de quem nada esperávamos nos abriam as portas e dividiam connosco o seu pouco, que era tanto. Foi depois de passarmos pelo Porto e por Lisboa que tomei rumo ao Sul. com os meus filhos (dois e três anos), André e Marta Gonzaga.


Em Estombar, Lagoa, 1975, parabéns Marta, a minha princesa num palácio a céu aberto. Foi o tempo dos milagres

E assim, depois do naufrágio que precipitou centenas de milhares de nós em «mares de mágoas sem marés/onde não há sinal de qualquer porto», o Algarve foi a praia onde finalmente demos à costa. Corria o ano de 1975, tínhamos voltado em finais de 1974, mas só agora Abril chegava finalmente ao calendário e à nossa vida a re-começar.

Tantos anos depois, numa rua pequenina, por detrás dos Bombeiros de Faro, reencontrei-me em paz neste fragmento de estória pessoal. Aos amigos que nesses tempos me abriram as portas, e cujo nome já nem retenho, o meu obrigada que atravessa os tempos. Ao Pedrão, que incondicionalmente foi o nosso anjo da guarda, todo ele acção e nenhuma pergunta, o meu amor para sempre. Para os meus filhos todos, então nascidos e ainda por nascer, uma narrativa de encantar. Para os mais velhos, foram tempos de puro encantamento diário. Para mim, foram os tempos de lhes inventar, todos os dias e a todos os momentos, «a Vida é bela». 

Fico tão feliz por ter conseguido. 


Marta, Praia da Rocha, junto à muralha do Castelo 1975

Faro, 2016, na rua pequena por detrás dos Bombeiros, o nosso primeiro pouso 

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