Ele acordou com os olhos amarelos, o corpo amarelo, a cabeça a explodir, o corpo em chamas. «Estás com hepatite», disse eu. «Oh, cala-te! Tenho de ir fechar o jornal, tenho tanta coisa para fazer, e tu estás grávida e tudo», respondeu ele, a arder em febre. Estava com hepatite. O médico do Correio da Manhã confirmou o alarmante diagnóstico, acrescentando: «uns meses até ficar bom. Vou já passar a baixa.»
O Zé Ralha olhou-me em pânico, e quando o médico saíu voltou à mesma: «eu não posso estar doente! Isto não dá jeito nenhum nesta altura!»
Penso que foi o senhor da farmácia onde eu levantava os remédios que adiantou esta informação:«Conheço gente que se dá bem com essas coisas. Uns amigos trataram mesmo uma hepatite com o chá Milagroso e o chá Rosil. Em poucas semanas. E se não fizer bem, mal não faz.»
Eu, mais a minha formidavel barriga onde o Bernardo já esperneava, fui a correr à Rua da Madalena. Trouxe os dois chás e o Zé bebia litros e litros daquilo. Um dia tomava o Milagroso, no outro, o Rosil. Duas semanas depois, os indices de bilirubina, que estavam em níveis alarmantes, tinham voltado quase ao normal. E ele a fechar os jornais na cama, com os paquetes dos jornais e das várias revistas, num corropio entre a rua do Poço da Cidade, onde vivíamos naquela altura, e a Ruben A. Leitão, onde se fazia o Correio da Manhã, e a rua da Palmira, nos Anjos, onde ficava a redacção do TV Top e da Música & Som.
O médico ficou radiante, acreditando que as suas prescriçoes de compotas caseiras e multivitaminas tinham tido um resultado «milagroso». Nenhum paciente dele, até então, registara semelhantes melhoras em tão curto espaço de tempo! E se ele já tinha tratado hepatites!
Falámos um com o outro e decidimos não lhe revelar o segredo dos chás. «É um gajo tão porreiro, e está tão contente, não vale a pena desiludi-lo» - disse o Zé, que nem sempre era tão 'caridoso' com as susceptibilidades alheias.
Mas o facto é que, em três semanas o Zé estava curado, e prontíssimo para voltar à vida trepidante das redacções. E esta história com todos os seus detalhes e outros que não vale a pena referir, torna-se inevitavelmente presente sempre que volto à ervanária Rossil. Adoro aquelas duas lojas da rua da Madalena, uma em frente da outra. Apetece-me trazer tudo, a começar pelo perfume das plantas, ervas, raízes, bolbos, folhas, caules. Mas trago sempre várias coisas. Por exemplo, os óregãos, em pacotes de 100 gramas, são preciosos. Nada a ver com aquela porcariazinha que vem nos pacotes minusculos que nos impingem nas grandes superfícies. E chás. Muitos chás maravilhosos.
Antigamente, havia um vaso de vidro com sanguessugas. «Isso acabou», diz o mais antigo empregado da Ervanária Rosil. Mas o resto continua. E de muito boa saúde. Aquela casa, de onde se evola um perfume inolvidável, é já um marco histórico da nossa Lisboa. Gente de todo o país e do estrangeiro, conhece-a, visita-a, abastece-se ali do melhor da nossa flora silvestre e não poluída. Um orgulho.
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