domingo, outubro 24, 2010

Os nomes novos das pessoas

Os nomes de cada um é uma coisa do caraças. Desculpem, mas foi a primeira coisa que me veio à cabeça,  agora que me preparo para discorrer sobre o tema: pessoas que mudam de nome ao longo da sua vida. Por vontade própria, ou por imposição alheia. Em circunstâncias muito particulares. Ou muito banais.
Por exemplo, na infância distorçem-nos os nomes, adicionando-lhes inhos e inhas, uxas e okas e ekas, itas e totas. Na adolescência, há o petit nom, a alcunha. Livramo-nos dela, como quem despe  um adereço de cena, mal entramos na vida dos adultos.
Mas há alteraçoes mais drásticas. Eu amei e casei com um Anselmo. Tivemos dois filhos. Separámo-nos no vendaval, no tsumani do fim do império. Ambos náufragos, cada um deu à costa em tempos diferentes. Quando nos voltamos a encontrar, ele era o Samuel. E vivia no outro lado do espelho. Ou era eu que atravessara o portal da dimensão onde coincidimos numa eternidade de tempos breves. Nunca o consegui chamar assim. Depois, anos depois, tornou-se o Manuel. Também não me adaptei a tratá-lo dessa maneira, embora Manuel fizesse parte do seu nome. O curioso, é que ele atravessou as suas mudanças com uma consciência tão pungente, que a única forma de as assumir em plenitude, foi nomear-se de novo.
Há dias, falei do reencontro com o Poeta Nair, aqui num post. Ela corrgiu-me: «agora sou a Leonora». E referiu-me a morte da mãe, como detonador da sua nova personalidade. Mudança drástica que exigiu dela um renascimento. E uma forma diferente de se nomear.
Também falei no Sérgio, que cruza os nossos quotidianos com um arquétipo bíblico de pobreza e abandono, ou como o Louco do Tarô. Mas há duas semanas, este homem sempre tão silencioso falou longamente comigo, por motivos que agora não interessam. E corrigiu-me :«o meu nome é Luís». Só que, e neste caso, a mudança não foi prepretada por ele. Fomos nós que o invocámos sempre de forma errada durante dez anos. E isso, de algum modo, é perturbante.
Finalmente, acabo de receber um email meu queridíssimo Ivo, que, de Hamburgo, no términus de mais uma exposição sua, de pintura, me participa que agora se chama «Bassanti, um nome novo para uma consciência nova».
E eu estou muito interessada em saber o que aconteceu com ele. Deve ter sido something. No mínimo uma ressurreição.

2 comentários:

Anónimo disse...

Pois por vezes um nome nove surge com um renascer.

Desde que me conheci era tratada por Ze (nome de rapaz) pois a minha mae recusava chamar-me Augusta Jose. Ela achava que era um nome muito pesado para uma crianca. Ate que fui para a escola e ao fim de duas estaladas na cara dadas pela professora, muito ofendida por eu nao responder ao meu nome na chamada no primeiro dia de aulas, descobri que me chamava Augusta.
Ainda me lembro do meu pai a tentar explicar que eu carregava um nome muito importante aos ombros. -"Augustus eram os nomes dos imperadores - estas destinada a grandes feitos!" Dizia-me ele la de cima da mesa da sala de jantar de bracos abertos com uma voz de trovao...

Durante 10 anos fui conhecida como Mozzaic. Fazia sentido pois durante essa decada fiz muitos mosaicos nao so com azuleijos e cacos mas tambem com a minha alma que por vezes estava em cacos. Fiz mosaicos com pessoas que amaei ajudando-as a estilhacarem -se em pedacos para de novo renascerem como pecas unicas, seres bonitos betumados com o amor que lhes fui dando.

Naste momento toda a gente por estas bandas me trata por Zeena (mais facil de pronunciar para os americanos do que Ze). Como o meu ultimo nome e Nascimento olha ficou Zeena, a princesa guerreira de uma serie muito pirosa dos anos 80 ou 90. Nao me fica ssim tao mal pois na verdade sinto-me como uma princesa guerreira lutando contra tantos desafios que me aparecem diariamante pela frente. Vamos ver por quanto tempo este nome se ira colar a minha capa...

Concordo absolutamente contigo a palavra certa e mesmo RESSURREICAO.
Quando se morre e renasce, certos nomes do passado ja nao nos acentam tao bem. Alguns ficam por mais que o tempe os tente apagar.
Quando me refiro a uma amiga minha a minha mae, ainda lhe chamamos Vovo Donalda. Certos nomes ficam mesmo bem com as pessoas.
Um abraco
Ze

Manuela Gonzaga disse...

Zeena!! Wow! Adorei o teu comentário. Para mim, porém, serás sempre a Mozzaic. Eventualmente a Zé. Love.