A propósito de algumas das minhas
afirmações; a propósito de alguns dos meus textos; a propósito de defesas de causas que
eu tomo ou não; a propósito de diferenças e semelhanças. Tenho recebido
mensagens em privado e trocado opiniões com pessoas que seguem a minha candidatura presidencial e que são suficientemente gentis para considerarem que sou bem intencionada - e
assim, discordando frontalmente com algumas das minhas tomadas de posição,
alertam-me para a contabilidade eleitoral. Para o ganha perde dos votos.
E eu fico gratíssima e em grande
aflição. Não por perder ou ganhar votos. Mas porque no mundo onde me movo, o
mundo que eu vejo é tudo menos normal.
Quem matou Laura Palmer, lembram-se? |
- Não há qualquer espécie de normalidade
na guerra.
- Não há qualquer espécie de normalidade na fome.
- Não há qualquer espécie de normalidade na
violência exercida pelos mais fortes sobre os mais frágeis, os mais
vulneráveis, os mais indefesos.
- Não há qualquer espécie de normalidade na
apropriação dos bens de todos por parte de alguns, muito poucos. E por bens,
entenda-se tudo, desde o que é necessário à vida, a começar pela água; pelo chão que
se pisa; pelo tecto que nos abriga; pelo alimento que nos alenta, pelo manto
que nos cobre.
- Não há qualquer normalidade na forma como
tratamos a Natureza, como se fosse uma «coisa» com que se brinca até se lhe
retirar tudo o que nela vive, matando-a, floresta após floresta; montanha após
montanha; rio após rio; mar após mar.
- Não há qualquer normalidade na forma como usamos
e abusamos dos animais que partilham connosco o planeta. A crueldade que
exercemos sobre eles é indizível. E porém, toleramo-la.
- Não há qualquer espécie de normalidade no
desamor que leva a que se mate ou se abuse de uma criança. E quantas vezes essa
morte em vida que é o abuso, é perpetrado no seio do lar?
- Não há qualquer normalidade nos chamados «crimes
de amor» que ao amor nada devem, porque é apenas o egoísmo, a ignorância e a
prepotência que leva agressores/as a agirem contra agredidas/os. Isso e a noção de impunidade com que agem.
- Não há qualquer normalidade em tanta coisa que
achamos normal, ou que toleramos como se o fosse: o roubo, a calúnia, a
desfaçatez, a injustiça, a indiferença de muitos que levam tantos ao desespero
e à ruína. A inconcebível tolerância do mal.
Depois, querem que eu volte sobre os meus
passos e retire as minhas palavras de apoio, quando a questão é meramente do foro íntimo
de cada um, como por exemplo, duas pessoas do mesmo sexo amarem-se como se amam
pessoas de sexos opostos e assinarem um documento em conservatória do registo civil, que as consigna como parceiros com direitos adquiridos e etc., vulgo casamento? Num mundo onde o ódio é considerado «normal», e
por vezes até aceitável e legítimo, o amor, por ter um rosto diferente, é
abominado como uma abominação.
E isto é que não é normal.
Já agora, ainda se lembram quem matou
Laura Palmer?
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