No Portugal 'perfeito' dos tempos da outra Senhora, na década de 60 e 70 do século passado, um milhão e meio de portugueses saíram de Portugal. Quase todos a salto, em condições deploráveis, para ganhar o pão que a terra nossa lhes negava. Grande parte dessa gente a quem devemos, no mínimo, uma Homenagem Nacional, partiu mal vestida, mal calçada, com fome, com frio, com medo, e sem ferramentas mentais que lhes poderiam permitir, a chegada, um futuro pelo menos melhor do que os bairros de lata infames - os bidonville - que os acolheram.
E de onde, após uma vida de trabalho digníssima, quase todos escaparam com a maior dignidade.
Hoje, grande parte dos que partem, e os números crescem de forma avassaladora, vão calçados e armados de conhecimentos vários. Por exemplo, cursos técnicos e superiores de que temos a maior necessidade - médicos, arquitectos, engenheiros, enfermeiros, e por aí fora. Para além do conhecimento de línguas estrangeiras, e de uma rede amigos e conhecidos algures, e que os acolhem fazendo-os, a muitos deles pelo menos, sentirem-se em casa.
Mas a situação, sendo diferente para melhor, é igualmente trágica. O futuro, nosso, vai com eles. E uma parte da nossa alegria, porque não admiti-lo? Recentemente, publiquei na minha página de candidatura este post que partilho:
«Tenho quatro maravilhosos filhos. Dois, foram estudar para fora e já só voltam de férias: quando não passam férias noutros lados, porque o mundo é vasto e redondo e eles têm amigos no mundo inteiro. Tenho outro quase filho, que também só aparece sazonalmente. Grande parte dos que estudaram com eles em Portugal e alguns dos que os acompanharam desde o jardim escola - no inesquecível colégio O Formigueiro, Lisboa, depois no Passos Manuel - também estão espalhados pelo mundo. E agora, a minha luminosa filha e a minha resplandecente neta, estão de malas aviadas para uma Viagem incrível!
Quando voltam? Sabemos lá. Fica, por enquanto, o mais velho, que também já andou pelo norte da Europa, nos caminhos das artes, quase dois anos. E o meu lindíssimo neto. Um conforto. Para os braços da mãe que eu sou, é muita ausência. É um buraco no peito por onde cabe um Boeing 747. Não me digam que nesta «ditosa pátria minha amada» há lugar para todos, porque é falso. Há lugares, sim. Mas estão cativos. Por outro lado, para quem quer mesmo viver em Portugal, ser português é a nacionalidade errada.
É também por eles, pelos nossos Meninos e Meninas d'Ouro que estou aqui a fazer a minha parte de ser a Voz dos que não têm voz, porque a perderam, porque nunca a tiveram, porque se vão embora. Para o que todos temos de fazer a nossa parte. Isto é, se quisermos mudar as coisas.»
Aos comentários, muitos, respondi no texto publicado hoje, no mural de facebook que partilho:
«Vou explicar melhor: por um lado, estou feliz porque os meus filhos têm caminhos abertos e para abrir no mundo. E muitas ferramentas que lhes permitem sentirem-se em casa onde quer que chegam, se gostam do que vêm e da forma como são acolhidos. Estou feliz porque na Europa, europeus já não são IMIGRANTES.
O que acontece, é que os meus filhos e grande parte dos amigos/as e dos amigos/as dos amigos deles que também foram, não estão presos numa «pátria» que não lhes liga nenhuma; e recusam a fatalidade de viver num horizonte sem horizontes. E por isso vão-se embora. O que é trágico para todos nós.
E de onde, após uma vida de trabalho digníssima, quase todos escaparam com a maior dignidade.
Hoje, grande parte dos que partem, e os números crescem de forma avassaladora, vão calçados e armados de conhecimentos vários. Por exemplo, cursos técnicos e superiores de que temos a maior necessidade - médicos, arquitectos, engenheiros, enfermeiros, e por aí fora. Para além do conhecimento de línguas estrangeiras, e de uma rede amigos e conhecidos algures, e que os acolhem fazendo-os, a muitos deles pelo menos, sentirem-se em casa.
Mas a situação, sendo diferente para melhor, é igualmente trágica. O futuro, nosso, vai com eles. E uma parte da nossa alegria, porque não admiti-lo? Recentemente, publiquei na minha página de candidatura este post que partilho:
«Tenho quatro maravilhosos filhos. Dois, foram estudar para fora e já só voltam de férias: quando não passam férias noutros lados, porque o mundo é vasto e redondo e eles têm amigos no mundo inteiro. Tenho outro quase filho, que também só aparece sazonalmente. Grande parte dos que estudaram com eles em Portugal e alguns dos que os acompanharam desde o jardim escola - no inesquecível colégio O Formigueiro, Lisboa, depois no Passos Manuel - também estão espalhados pelo mundo. E agora, a minha luminosa filha e a minha resplandecente neta, estão de malas aviadas para uma Viagem incrível!
Quando voltam? Sabemos lá. Fica, por enquanto, o mais velho, que também já andou pelo norte da Europa, nos caminhos das artes, quase dois anos. E o meu lindíssimo neto. Um conforto. Para os braços da mãe que eu sou, é muita ausência. É um buraco no peito por onde cabe um Boeing 747. Não me digam que nesta «ditosa pátria minha amada» há lugar para todos, porque é falso. Há lugares, sim. Mas estão cativos. Por outro lado, para quem quer mesmo viver em Portugal, ser português é a nacionalidade errada.
É também por eles, pelos nossos Meninos e Meninas d'Ouro que estou aqui a fazer a minha parte de ser a Voz dos que não têm voz, porque a perderam, porque nunca a tiveram, porque se vão embora. Para o que todos temos de fazer a nossa parte. Isto é, se quisermos mudar as coisas.»
Aos comentários, muitos, respondi no texto publicado hoje, no mural de facebook que partilho:
«Vou explicar melhor: por um lado, estou feliz porque os meus filhos têm caminhos abertos e para abrir no mundo. E muitas ferramentas que lhes permitem sentirem-se em casa onde quer que chegam, se gostam do que vêm e da forma como são acolhidos. Estou feliz porque na Europa, europeus já não são IMIGRANTES.
Se sinto a falta deles? Se sinto! Mas para além da ferida pessoal, comum a tantíssimas/os de nós, o pior para todos, é o DESENHO TOTAL. Do meu e nosso país que os dispensa como se houvesse muitos cérebros a funcionar por cá, quando não há. Manifestamente, o défice de excelência humana está a tornar-se um drama. Exportamos o melhor que temos, sem contrapartidas.
GENTE. Muita, muita gente. Gente demais.
Em contrapartida, estamos a transformar-nos num condomínio de luxo para gente que tem muito dinheiro e aqui vem passar uma parte das suas reformas douradas. E num paraíso de férias para gente que por pouco dinheiro passa dias dourados com boas praias e boa comida e muito álcool.
Em contrapartida, tornámo-nos um depósito de idosos a morrer de fome ou de falta de cuidados primários, porque as suas exíguas reformas são devoradas dentadinha após dentadinha pela máquina fiscal mais brutal que já vimos em acção.
Em contrapartida, tornámo-nos um depósito de idosos a morrer de fome ou de falta de cuidados primários, porque as suas exíguas reformas são devoradas dentadinha após dentadinha pela máquina fiscal mais brutal que já vimos em acção.
E assim, estamos a regressar ao cinzentismo do antes. Ao medo que pairava sobre os quotidianos, no tempo do antes, numa insegurança reforçada pelos crimes do agora.
Somos o rebanho perfeito: faremos tudo para fugir do bicho-papão. Desde pretender que ele não existe, enfiando a cabeça na areia e esperando que passe sem dar por nós; até correr de braços abertos para os enviados do bicho-papão que ciclicamente, há décadas, nos prometem o paraíso na terra - reforçando a ideia de que têm estado a contribuir para que «tudo fique melhor do que estava».
E muitos acreditam. E essa é a maior tragédia de todas, porque se não percebermos o desenho, por ignorância ou demissão, nada poderá ser diferente. Acredito que pode ser diferente. Se quisermos.
Entretanto... Ainda bem que os meus filhos se podem ir embora, nas condições em que vão. A tempo e horas.»
Entretanto... Ainda bem que os meus filhos se podem ir embora, nas condições em que vão. A tempo e horas.»
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