Era um senhor muito bom. Só tinha um defeito: não gostava de trabalhar. Passava os dias sentado, a ler e a escrever. Era assim, aos olhos da sua criada, como então se dizia, o Grande Alexandre Herculano. O quanto devemos à sua «preguiça» está por dizer. Aos livros, ao conhecimento, ele dedicou-se por inteiro de uma forma que, hoje, quase ninguém conseguiria entender.
Fica uma lista de obras suas, digitalizadas, aqui. E uma carta dele, preciosa, que diz tudo sobre as suas opções de vida:
Alexandre Herculano |
«[...] Tive aos 26 anos uma destas paixões que todos temos naquela idade, mas havia em mim outra mais poderosa, a das ambições literárias. Os meus amores foram com a irmã do Meira, D. Mariana Hermínia. A paixão literária venceu a outra. Tive a coragem de lhe sacrificar esta. Com a minha modesta fortuna não podia fazer filhos e livros ao mesmo tempo. Era necessário ser uma espécie de frade, menos o convento. Falei, pois com franqueza a minha actual mulher, que então era uma cabeça algum tanto romanesca. As mulheres são capazes de actos de abnegação que seriam para nós impossíveis. Já havia rejeitado por minha causa um casamento vantajoso que a família lhe arranjara com um primo, mas à vista das minhas declarações, foi mais longe: aceitou uma posição ambígua, sujeita a comentários e calúnias, sem soltar um queixume, sem a menor quebra durante trinta anos de uma dedicação e amizade ilimitadas. Confesso-lhe que, neste ponto, eu que me parece estar curado de todas as vaidades, ainda tenho vaidade nisto. [...]»
Para ler na integra em ABENCERRAGEM Correspondências #26 - Alexandre Herculano a Joaquim Filipe de Soure, 17/12/2005, consult. a 16/04/2015.
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