A propósito da notícia tão obscena quanto aterradora de que a Nestlé tem estado a patentear os genes do leite humano - uma noticia que me chegou às mãos via PAN Lisboa - Partido dos Animais e da Natureza - a minha cabeça disparou noutras direções onde o protagonismo desta corporação foi igualmente obsceno. Convidando-vos a ler a notícia da patente dos genes humanos do leite, mas deixo aqui outra reflexão sobre o comportamento exemplar da «grande leiteira dos povos».
A Nestlé nos anos 50, 60, cito de cor, promoveu campanhas de fome no chamado terceiro mundo. Começava por oferecer leite às mães, para as poupar à 'trabalheira' e à 'falta de higiene' das suas próprias mamas, dizendo-lhes que o produto sintetizado era muito melhor, muito mais «limpo» e muito mais saudável. Depois, o leite secava e as mães não tinham como amamentar e nem como pagar o leite em pó.
Foi terrível e nunca se falou muito nisso porque era em África e era um problema de pretas e pretos. Funcionou nos países industrializados porque as mães tinham dinheiro para leite em pó, e ficavam com mais «tempo» para brincar com aspiradores e máquinas de lavar. Com os custos emocionais que talvez um dia possam ser equacionados. E por motivos exemplarmente elucidados em, por exemplo em How breastfeeding is undermined. Nos meios mais evoluídos e informados, porém, deu origem a muitas ações de denúncia e a uma campanha mundial que colheu os seus frutos, a qual apelava ao boicote à multinacional que a apanhou quase de surpresa obrigando-a encolher as garras.
Mas ninguém me tira da cabeça que a moda insana de promover como sensual e desejável a imagem de mulheres cujas mamas parecem rebentar com subidas de leite a despropósito - como se tivessem trigémeos aos gritos em quartos escondidos -, pode enraizar no imaginário de bebés feitos homens esfaimados e nostálgicos da mama que nunca tiveram. E estou a falar a sério.
Começou nos States com Pamela Andersen em Marés Vivas, creio, e no começo dos anos 90 já tinha saltado das paredes e das portas das casas de banho das oficinas e dos tabliers dos motoristas de longo curso para as clínicas ao serviço da beleza. Anos depois chegou a alguma Europa. Façam as contas à idade dos bebés e à idade dos homens, e à capacidade que as mulheres têm de se deixar levar, sobretudo elas, pela bruxaria à distância que é a publicidade no seu esplendor...
Nota: actrizes com mamas muito grandes já havia porque o corpo humano é rico na sua diversidade. Mas nunca a indústria tinha encontro o ponto de apoio certo para prover industrialmente o exageradíssimo estereótipo de beleza cujo pilar são mamas de tamanho anormal ou claramente doentio, a que uma certa «moda» deu chão e tanta mulher deu eco. Et pour cause.
Para saber mais:
A Generation On: Baby milk marketing still putting children’s lives at risk
How breastfeeding is undermined
Créditos da imagem: «Como escolher o tamanho das próteses de silicone» em O Blogue de Plástico
A Nestlé nos anos 50, 60, cito de cor, promoveu campanhas de fome no chamado terceiro mundo. Começava por oferecer leite às mães, para as poupar à 'trabalheira' e à 'falta de higiene' das suas próprias mamas, dizendo-lhes que o produto sintetizado era muito melhor, muito mais «limpo» e muito mais saudável. Depois, o leite secava e as mães não tinham como amamentar e nem como pagar o leite em pó.
Foi terrível e nunca se falou muito nisso porque era em África e era um problema de pretas e pretos. Funcionou nos países industrializados porque as mães tinham dinheiro para leite em pó, e ficavam com mais «tempo» para brincar com aspiradores e máquinas de lavar. Com os custos emocionais que talvez um dia possam ser equacionados. E por motivos exemplarmente elucidados em, por exemplo em How breastfeeding is undermined. Nos meios mais evoluídos e informados, porém, deu origem a muitas ações de denúncia e a uma campanha mundial que colheu os seus frutos, a qual apelava ao boicote à multinacional que a apanhou quase de surpresa obrigando-a encolher as garras.
Mas ninguém me tira da cabeça que a moda insana de promover como sensual e desejável a imagem de mulheres cujas mamas parecem rebentar com subidas de leite a despropósito - como se tivessem trigémeos aos gritos em quartos escondidos -, pode enraizar no imaginário de bebés feitos homens esfaimados e nostálgicos da mama que nunca tiveram. E estou a falar a sério.
Começou nos States com Pamela Andersen em Marés Vivas, creio, e no começo dos anos 90 já tinha saltado das paredes e das portas das casas de banho das oficinas e dos tabliers dos motoristas de longo curso para as clínicas ao serviço da beleza. Anos depois chegou a alguma Europa. Façam as contas à idade dos bebés e à idade dos homens, e à capacidade que as mulheres têm de se deixar levar, sobretudo elas, pela bruxaria à distância que é a publicidade no seu esplendor...
Nota: actrizes com mamas muito grandes já havia porque o corpo humano é rico na sua diversidade. Mas nunca a indústria tinha encontro o ponto de apoio certo para prover industrialmente o exageradíssimo estereótipo de beleza cujo pilar são mamas de tamanho anormal ou claramente doentio, a que uma certa «moda» deu chão e tanta mulher deu eco. Et pour cause.
Para saber mais:
A Generation On: Baby milk marketing still putting children’s lives at risk
How breastfeeding is undermined
Créditos da imagem: «Como escolher o tamanho das próteses de silicone» em O Blogue de Plástico
Mais do que um mero exercício para nos pôr a escrever, é um mergulho às nossas entranhas, com um efeito catártico nas nossas vidas.
Muito obrigada Manuela pelo teu maravilhoso trabalho e generosidade com que te empenhas.