domingo, outubro 27, 2013

Amosse Mucavele, o poeta

Vou citar de uma página onde, no espartilho do CV, se resume o irresumível. Uma vida. De um grande poeta moçambicano, que para minha alegria conheci há pouco. Porque? Porque as suas palavras, como as de outros poetas vivos, transfiguram os meus dias. São meu alimento. 
Bebo-as e como-as para me defender do Caos. Sem estas luzes, sem faróis como estes, a Vida, a de nós todos, é só caminho para o olvido ou para o naufrágio. Por mais confortável que seja a nossa ilha de realidade. E nunca é. Só se formos surdos e cegos e indiferentes ao que se passa ao nosso redor, e o nosso redor é o mundo inteiro. Se formos, se estivermos, é porque já morremos e ainda não demos por isso. 
O poema não morre.

«Amosse Eugenio Mucavele nasceu aos 8 de julho de 1987 em Maputo, Moçambique. Membro fundador do Movimento Literário Kuphaluxa, sonha em ser poeta, cronista e contador de sonhos. Faz parte da equipe editorial da Revista Literatas - Revista de literatura moçambicana e lusófona, colabora no Pavilhão Literário Singrando Horizontes – Academia de Letras do Paraná, ricardoriso.blogspot.com, Jornal Coruja (Cida Sepúlveda). organizou a antologia da nova poesia moçambicana publicada na Revista Zunái (Claudio Daniel), tem poemas publicados na Revista Eutomia e Linguística da Universidade Federal de Pernambuco, e em outros blogs. É membro Correspondente da Academia de letras Teófilo Otoni, Minas Gerais» [em Revista Mallarmargens, por Laura Amaral]

Desta mesma revista, trouxe para aqui um texto dele:


 

Ao Cláudio Daniel

A memória é um inferno provisório onde os nossos dias visitam constantemente. na penumbra de um mar de esquecimento ladeado de flores que brilham ao som do silêncio. e ao entardecer. a neve embarca no murmúrio da água que bate nas pálpebras das pedras na solene viagem do nada. e para além do sal derramado nas margens, não via-se mais nada, pois o cinzento abocanhou a melancolia do céu que outrora fora azul. e difícil é, descortinar este lado invisível da distância que nos assiste. A ilha que nos espera é feita de papel que baloiça livremente nos olhos do mar-mil umas visões espalhadas no útero do passado, uma música embalada de presentes toca incansavelmente na febre do navio-onde é minha casa?
E no colo do futuro procuraremos acender as nossas identidades com o anzol que perdeu-se nas ondas da tempestade.


Da sua página no Facebook, este
Mafalala 
Os sinos da munhuana estão velhos
Tocam nas rugosas horas da esperança murcha
O cansaço das lembranças estampadas nas casas de madeira e zinco
E no chão cimentado por pântanos
As rãs fazem ajuste de contas com a dor das vozes sem voz
 
Amosse Mucavele

 

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