quarta-feira, outubro 30, 2013

Bárbara Guimarães e José Maria Carrilho

A separação mais mediática do ano, por motivos de alegada violência física e psicológica exercida pelo homem da casa sobre a sua consorte, ao que o dito contrapõe com acusações de alcoolismo e outras, tem sido comentada nas redes de uma forma aterradora. Em primeiro lugar, pela violência exercida contra a língua portuguesa de que os comentadores e comentadoras dão abundante testemunho. Depois, pelo preconceito terrível e a indisfarçável inveja que enformam grande parte dos comentários quase todos a apelar ao «silêncio» da suposta vítima, a que já uma outra se lhe segue na pessoa da primeira esposa do suposto agressor que rompe um silêncio de décadas. Igualmente para denunciar a prática de violência a que foi sujeita durante anos pelo mesmo homem, de resto um político e um intelectual de créditos firmados, pelo menos, em Portugal.


 Eu não sei o que há de verdade ou de fantasia nestas acusações. A procissão vai no adro. O que sei é que o silêncio, que tantos apregoam como virtude, é o pior inimigo das vitimas, sejam elas quais forem e seja qual for o seu escalão social. Em nome desse mesmo tipo de silêncio tão estupidamente valorizado, prerrogativas de género, de estatuto, social e etário, têm sido mantidas ao longo dos séculos.

Se uma mulher, que por acaso até é linda que se farta, e socialmente bem sucedida, vem por cobro a um casamento e invoca violência domestica, o que emerge de grande parte dos comentários às notícias desta separação trágica, é um estendal de frases mal construídas, cheias de pontapés na gramática e erros de ortografia, e, pior ainda, eivadas de inveja e despeito. «Querias ser famosa? Come e cala!», e por aí fora...

Ora eu penso que se alguém tem a coragem e o desassombro de trazer um drama doméstico destes para a praça pública, vai contribuir com mais um sinal de alerta aos agressores e de apoio a vítimas silenciosas. A ser verdade o que ela alega, Bárbara Guimarães agiu muito bem e era muito bom que mais mulheres com autonomia financeira e no escalão social em que ela se encontra, pudessem e tivessem a coragem de fazer o mesmo. Porque a violência doméstica não mora só nas barracas, nos subúrbios e nas aldeias do interior.
 

A violência domestica, caros cidadãos e cidadãs, nem sequer, pela sua trágica dimensão, é um problema de casal, e trazê-la a lume não é lavar roupa suja. É denunciar um CRIME PÚBLICO que todos os anos leva para a cova muitos milhares de mulheres no mundo inteiro. Mulheres que morrem em silêncio com a cumplicidade de todos. Mulheres cujos gritos só são ouvidos quando as suas vozes se calam para sempre.

Denunciar este crime, falsamente qualificado do foro privado, é sinal de coragem, desassombro e civismo. 
Créditos da imagem: Palco do Andrew 

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