sábado, outubro 19, 2013

Meu inimigo e minha sombra, meu amor e minha luz

Meu inimigo, minha sombra, minha luz e meu amor.
As «Elegias do amor e do ódio» vão arrancar daqui a poucas horas - o segundo grupo. Basicamente, e neste primeiro passo, o desafio é procurar uma pessoa, especificamente uma pessoa, que nos marcou. Pode ter sido 'alguém que passou por cá e deixou ao deus-dará os olhos presos nos meus', como na letra do fado. Pode ter sido alguém que nos impressionou pelos melhores ou piores motivos.

Marc Chagall, A queda do anjo, 1923-1947 (detalhe),
 
Pode ser alguém sobre o qual se queira efabular um registo literário, mas que, em boa verdade, só existe no nosso pensamento. Pode ser alguém a quem não temos ou não tivemos coragem de nos dirigir. Um amor esquecido? Uma paixão escondida? Um raiva que não tem por onde sair? Uma dor? Uma injustiça a ser reparada? Uma fantasia? Quem sabe o que se passa na camara de tesouros do nosso passado, todo ele e porque passou, já revertido em imaginação? Só nós, se a tal nos dispusermos. Porque é de Viagem que se trata.

Em todo o caso, vamos chamar uma pessoa. E essa evocação provocará um recrudescimento de lembranças e destas, trabalhadas pela palavra viva, vai emergir uma carta. Uma carta que funcionará como um acerto de contas com o passado, real ou imaginário. É igual, vai dar ao mesmo. Tudo somos nós.

Destacamos, do primeiro módulo, o respectivo briefing: «Ao longo da vida há muitas pessoas que nos marcam. Aqui costumamos acrescentar a frase que é uma espécie de dogma: 'para o melhor e para o pior'. Este aforismo, porém, é desprovido de sentido. Todos os que nos ensinam, e portanto todos os que nos fazem crescer, com ou sem dor, surgem na nossa vida por algum motivo, um motivo muito forte. Fomos nós que os/as chamámos. Vamos então invocar, descobrir, desentocar, alguém muito particular, e trazê-lo à luz do momento presente. Vamos recordá-lo com todos os detalhes. Vamos chamá-lo pelo nome.»

Queridas pessoas: mesmo sem fazerem parte destas Oficinas, porque não tentam escrever também esta carta, seguindo os passos aqui muito sucintamente explanados? Façam-no e, se quiserem, deixem-nos saber como foi. É um processo comovedor e fascinante ver emergir, pela magia da palavra, a reconfiguração das nossas vidas.
 
O seu sentido a tomar forma diante dos nossos olhos.

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