Quanto tempo é preciso para amar alguém? Não pode ser de repente?
Acho que sim. Tenho a certeza que sim. Há encontros que valem por uma ou por várias vidas. Há algumas, muito poucas pessoas, que encontrei uma única vez e amei para sempre. Homens e mulheres. Como quem se reencontra e reconhece.
Por exemplo.
Tenho um amigo que conheci há vários anos numa viagem de avião. Quando o avião aterrou, conhecíamo-nos do tempo sem tempo. É muito mais novo do que eu, podia ser meu filho. Desde então, nunca mais nos vimos, tirando uma vez em que ele apareceu no lançamento de um dos meus livros. Fora isso, trocamos muito eventualmente, mensagens de facebook, sobretudo quando na vida dele, ou na minha, acontece alguma coisa suficientemente boa para merecer um grande like e um grande abraço. Ou muito triste, a merecer um abraço remoto ainda maior. Tratamo-nos mutuamente por «amigo do céu» e «amiga do céu». Não nos conhecemos nos quotidianos, e nunca nos iremos conhecer. Conhecemo-nos de outros lados sem lado nenhum.
Tenho outro amor que vi duas vezes. A primeira, há mais de 30 anos, quando eu percorria atordoada os corredores e as filas de uma repartição pública, a braços com documentação colonial insuficiente para o registo em Portugal dos meus filhos nascido nas ex-colónias. Ela tomou-me pelo braço e ensinou-me a ultrapassar a teia insolúvel da burocracia. Era moçambicana. Tínhamos vivido sob o mesmo céu e sobre a mesma terra. Ela ia para o Brasil. Era mulata, muito mais velha do que eu, e o abraço dela quando se despediu de mim, foi o abraço de uma mãe. Estávamos juntas há horas,a conversar numa pastelaria perto. Virei-lhe as costas para ela não ver que eu estava a chorar.
Dois ou três anos depois, inesperadamente e noutro lado completamente diferente da cidade, reencontrámo-nos e caímos nos braços uma da outra. Fomos lanchar, fomos falar, trocámos cromos - telefones e moradas. Ela tinha vindo a Portugal tratar de mais qualquer coisa, para não voltar aqui nunca mais. A sua casa, no Brasil, era minha - disse-me e estava a falar a sério. Perdi todas essas referências. Até o seu nome. Menos a minha memória dela. Agora, só a recordar o seu rosto difuso, o seu riso deslumbrante e bom, volto a comover-me.
É possível? Vou perguntar outra vez ao meu coração, a ver se não me enganei. É. Ele diz que sim.
O coração nunca se engana.
Acho que sim. Tenho a certeza que sim. Há encontros que valem por uma ou por várias vidas. Há algumas, muito poucas pessoas, que encontrei uma única vez e amei para sempre. Homens e mulheres. Como quem se reencontra e reconhece.
Por exemplo.
Tenho um amigo que conheci há vários anos numa viagem de avião. Quando o avião aterrou, conhecíamo-nos do tempo sem tempo. É muito mais novo do que eu, podia ser meu filho. Desde então, nunca mais nos vimos, tirando uma vez em que ele apareceu no lançamento de um dos meus livros. Fora isso, trocamos muito eventualmente, mensagens de facebook, sobretudo quando na vida dele, ou na minha, acontece alguma coisa suficientemente boa para merecer um grande like e um grande abraço. Ou muito triste, a merecer um abraço remoto ainda maior. Tratamo-nos mutuamente por «amigo do céu» e «amiga do céu». Não nos conhecemos nos quotidianos, e nunca nos iremos conhecer. Conhecemo-nos de outros lados sem lado nenhum.
Tenho outro amor que vi duas vezes. A primeira, há mais de 30 anos, quando eu percorria atordoada os corredores e as filas de uma repartição pública, a braços com documentação colonial insuficiente para o registo em Portugal dos meus filhos nascido nas ex-colónias. Ela tomou-me pelo braço e ensinou-me a ultrapassar a teia insolúvel da burocracia. Era moçambicana. Tínhamos vivido sob o mesmo céu e sobre a mesma terra. Ela ia para o Brasil. Era mulata, muito mais velha do que eu, e o abraço dela quando se despediu de mim, foi o abraço de uma mãe. Estávamos juntas há horas,a conversar numa pastelaria perto. Virei-lhe as costas para ela não ver que eu estava a chorar.
Dois ou três anos depois, inesperadamente e noutro lado completamente diferente da cidade, reencontrámo-nos e caímos nos braços uma da outra. Fomos lanchar, fomos falar, trocámos cromos - telefones e moradas. Ela tinha vindo a Portugal tratar de mais qualquer coisa, para não voltar aqui nunca mais. A sua casa, no Brasil, era minha - disse-me e estava a falar a sério. Perdi todas essas referências. Até o seu nome. Menos a minha memória dela. Agora, só a recordar o seu rosto difuso, o seu riso deslumbrante e bom, volto a comover-me.
É possível? Vou perguntar outra vez ao meu coração, a ver se não me enganei. É. Ele diz que sim.
O coração nunca se engana.
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