E assim me encontro agora numa estrada de vida que jamais tinha planeado: sou candidata presidencial!
Porque aceitei este caminho, que passos pretendo dar, e o que me move são os temas que desenvolvo no
Manifesto que apresento com a minha candidatura. A foto, publicada neste blogue sob o título com «
uma história para contar depois», ilustra o momento em que partilhei a novidade de um desafio tão entusiasmante quanto assustador com o amigo de muitos anos
João Paulo Oliveira e Costa, meu mandatário nacional, escritor e historiador, e com
Laure Collet (que não aparece porque está a fotografar-nos), nossa amiga e também tradutora e editora comum.
Era o tempo do segredo, e muito poucos souberam da novidade até ela ter sido divulgada em entrevista ao jornal Publico, uma semana antes do anúncio formal da candidatura.
Uma voz a quem precisa
Candidato-me à presidência da República Portuguesa, após vários anos de activismo, ao serviço de causas num envolvimento político e social que me permitiu começar a ver soluções no âmago dos conflitos, e a perceber que há caminhos de muita esperança nas estradas destruídas de uma civilização que está a chegar aos próprios limites.
Foi em Maio de 2015 que comecei a interiorizar a candidatura à mais alta magistratura de Portugal, que venho tornar pública por imperativos de cidadania, considerando que faz todo o sentido erguer a minha voz não-alinhada para dar voz aos que já não a têm ou nunca a tiveram. E a quem já nem resta o alívio de um grito de revolta.
Faço-o consciente de ser mais uma a somar-se às inúmeras vozes que denunciam, em Portugal e por todo o mundo, a brutal ditadura económica, sem rosto, sem precedentes nem limites, que tem vindo massificar os quotidianos da Humanidade, e, de uma forma galopante, a asfixiar a Vida de todos. Pessoas, Animais, Natureza.
Faço-o com o conforto de saber que há muitas outras vozes, em Portugal e no Planeta, a combater pela preservação da natureza que estamos a deixar às nossas descendências inocentes de tamanha destruição e calamidade. A herança envenenada de uma economia global, que destrói, contamina, perverte a Vida de todos em todas as suas manifestações.
Faço-o com a consciência de que precisamos de construir, em Portugal e no mundo sem fronteiras da gente da boa vontade, um património de esperança. É, sem dúvida, uma forma de activismo que tem de começar pela educação e pela consciencialização do modo como, nas nossas rotinas, num somatório de pequenos «nadas», contribuímos a cada segundo para a depredação do ambiente e para a exploração sem peias, nem ética, dos animais. Todos eles.
O QUE ME MOVE?
A noção muito evidente que temos, cada um de nós e todos, grandes responsabilidades pelo estado do mundo onde transitoriamente decorrem as nossas vidas. Sendo portuguesa e sendo cidadã, decidi por isso colocar a minha voz, o meu empenho e o meu amor ao serviço da construção de um mundo melhor. Começando evidentemente, pelo meu país natal, mas com a consciência de que, vista do céu, a Terra é só uma e não tem fronteiras.
QUE OBJECTIVOS ME NORTEIAM?
Num primeiro momento, ponderei tomar por lema da minha candidatura a expressão Por um Portugal mais justo – mas soube-me a slogan fora de prazo. Depois, pensei em erguer a bandeira das causas sob o lema Portugal de Todos. Mas isso não corresponde à verdade. Portugal, Estado Nação que Abril prometia vir a ser a pátria de oportunidades, com património riquíssimo, material e imaterial, uma longa História a preservar, até pelo muito que nos liga aos quatro cantos do mundo, é só de algumas e alguns. Este país, de natureza generosa e lindíssima, foi de tal forma alienado ao longo das últimas décadas, que é preciso começar por equacionar que Portugal nos resta ainda. E como salvaguardá-lo. E para quem. E por onde começar.
Foi assim que me encontrei a reflectir sobre um país fracturado e triste, arrebicado para estrangeiros que recebemos muito bem, e a quem – a um preço certo em euros –, vendemos cidadanias plenas, isentas de tarifas e outras grilhetas tarifárias que, por outro lado, a nós, portugueses, nos esmagam no abraço constritor da jibóia fiscal. Um Portugal espaço de sonho para turistas, que em número cada vez maior, equilibram alegremente a nossa desequilibrada balança de pagamentos, passeando, fotografando, comendo e dormindo no décor de postal ilustrado tridimensional que conferimos às nossas cidades, vilas e aldeias. E aos campos e às praias, iluminadas pela luz benfazeja que banha de ouro este Portugal que já foi de nautas e de aventureiros que hoje já quase ninguém recorda.
Juntando, peça a peça, os pedaços partidos do meu e nosso país, deparei-me com um Portugal que exporta portuguesas e portugueses a um ritmo alucinante, em vagas que nos privam do melhor da nossa juventude, de parte substancial dos nossos «cérebros», de gente activa e válida que tem de procurar noutros lados a subsistência que aqui lhes falha. Actualmente, a população da diáspora, mais de dois milhões de pessoas, já representa 20% da população residente no país. Somos um dos países da União Europeia com maior número de emigrantes. Grande parte dos que partem, nos últimos anos, são mulheres e homens na flor da vida.
E não pensam voltar.
Ora isto dá tanto que pensar. Afinal, após décadas de democracia mal-amanhada, o que resta? Um país a sós com a sua merenda que, no jardim periférico do não-recreio, se limita a defender a vocação de «bom» aluno pobre face aos alunos ricos que apenas o toleram porque lhe cobiçam os tesouros que ainda lhe sobraram no farnel, mas que, ostensivamente, o desprezam.
Aprisionados neste pesadelo colectivo, onde está a nossa voz? É fácil responder. Está amarrada, como presas estão as nossas vidas a um modelo de sociedade desprovido de sentido e sem qualquer viabilidade num futuro muito próximo. Foi neste contexto que surgiu o lema da minha candidatura:
LIBERDADE INCONDICIONAL
Porque é a nossa, colectiva, liberdade que está em questão na balança de pagamentos, onde os juros de uma agiotagem consentida ou tolerada atingem um despudor nunca visto, porque constituem uma grelha implacável, uma malha de arrasto, à escala planetária.
Porque nos ghettos onde, divididos por espécies, escalões fiscais, idades, géneros, cor de pele, fatalidade geográfica e outras classificações demenciais, é a nossa liberdade que se apaga.
Porque é da nossa, colectiva, liberdade que se trata quando se fala em extermínios de populações, um pouco por todo o mundo. Porque é da nossa colectiva liberdade agrilhoada que falamos, quando assistimos, silenciosamente, ao espectáculo diário dos mares transformados em cemitérios de gente em fuga. Ou ao debate e à prática do erguer de cortinas de ferro e balas em países ricos para impedir os muitos pobres de ali entrarem em busca de pão e paz.
Porque é da nossa colectiva liberdade que se trata quando assistimos à destruição da natureza e dos seus recursos. Uma destruição que, na mira de lucros sem amanhãs destrói terreno após terreno, não sem antes ter destruído os seus legítimos e ancestrais detentores humanos e não humanos. E que, na mesma lógica, promove a desflorestação galopante que ceifa um hectare de florestas a cada segundo que passa.
Porque é da nossa colectiva liberdade agrilhoada na indiferença ou na desinformação, que se fala quando se contempla a crueldade gélida com que tratamos animais e natureza ao serviço do lucro sem peias.
LIBERDADE INCONDICIONAL! PARA TODOS NÓS
Sem a pretensão de achar que posso mudar o mundo, assumo a ousadia de pensar que posso contribuir para a mudança no nosso pequeno mundo. Há sinais que chegam de todo o lado e contagiam. Não estou só, não estamos sós, nesta ousadia com asas de sonho. Todos juntos, não só podemos como devemos começar o caminho de libertação. Primeiro pela nossa casa. Pela casa dos que amamos. Pela casa dos que não têm casa. Pela casa-país que nos deu berço. Um país onde a cultura, alma de um povo, seu motor de arranque e busca de todos os amanhãs, é a filha mais mal-amada. E onde os recursos básicos da vida que ainda nos restam – água, saúde e educação – estão sob a mira das privatizações.
Não podemos deixar que tal aconteça.
CANDIDATO-ME À PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA PARA ASSUMIR O CARGO DE PROVEDORA DOS CIDADÃOS.
Para colocar o dedo na ferida alargada da Nação e apontar caminhos de liberdade, já que não pode haver liberdade sem reconhecermos a prisão onde estamos confinados.
Candidato-me a Presidente da República Portuguesa por entender que alguém num palanque de tão alargado poder de audiência tem de falar por esta terra que nos roubam, por este mar que nos querem vender, por esta população nossa que perdeu o sonho e com ele a esperança de uma vida com sentido.
Candidato-me à Presidência da Republica Portuguesa para ser uma Voz.
A voz dos idosos: temos a quarta maior percentagem de idosos na União Europeia. Vivem de esmolas, quase todos. Com efeito, de uma forma que nos envergonha a todos, sobrevivem com pensões de pura indigência. Pensões que de tão exíguas lhes colocam o problema irresolúvel da escolha entre os medicamentos que precisam em absoluto, ou a modestíssima alimentação sem a qual não vivem. Ora, e sua na esmagadora maioria, os nossos maiores, após uma vida de sacrifícios e trabalho árduo, não conseguem fazer face à dupla despesa.
A voz dos precários e dos desempregados: Portugal é o terceiro país, da União Europeia, com maior incidência de trabalho precário, associando-lhe a terceira taxa de desemprego mais elevada entre os países da OCDE, só ultrapassada pela Espanha e pela Grécia. Os números do Instituto Nacional de Estatística apontam para um número de desempregadas e desempregados de longa duração na casa dos 350 mil. Algo como 63% do total dos desempregados. A maior parte tem 45 ou mais anos. Muita pouca esperança, portanto, de voltar a arranjar emprego. Pelo menos em Portugal.
A voz das pessoas pobres – uma população que implica desde a pobreza envergonhada, à pobreza ostensiva e trágica dos que já nem tecto têm sobre as suas cabeças. Os desabrigados da sorte que diante dos nossos olhos, caíram e caiem na rua, todos os dias, e ali vivem. Se é que se pode chamar vida a quem nada tem de seu a não ser a miséria, sabendo-se que, em 2014, quase três milhões de portugueses estavam em risco de pobreza ou exclusão social, ou seja, sem possibilidade de satisfazerem as suas necessidades básicas.
Nesta contabilidade inscrevem-se quase metade dos desempregados, e não apenas os de longa duração, que vivem em situação de pobreza real. E, entre esses pobres, destaco as crianças. Em Portugal, uma em cada três vai para a escola com fome.
A voz que denuncia as desigualdades. Sociais e de género. E os crimes contra as mulheres – vítimas principais de um fenómeno de longuíssima duração que não podemos tolerar mais. A violência doméstica. Uma espécie de guerra civil de género, com vítimas quase diárias, algumas das quais não sobrevivem às agressões – e isto só em Portugal.
A voz atrás de grades de prisões onde nada se faz para a sua reabilitação. Prisões que são depósitos de gente a prazo e que, sem horizontes nem oportunidades, rapidamente voltarão aos mesmos comportamentos que para ali os levaram.
A voz de jovens a crescerem fechados nas ruas da vida, sem beneficiarem da passagem de testemunho das gerações mais velhas. E que acreditam que a vida ideal se cumpre no interior de um plasma televisivo para onde, por falta de horizontes e ferramentas mentais de educação apropriada, muitos e muitas querem saltar.
E, da plataforma institucional da mais alta magistratura da nação, quero ainda reequacionar a corrupção instalada que nos coloca numa posição «dramática» a nível europeu. Uma corrupção cujos agentes estão protegidos por um muro de opacidade instituído e defendido pelo próprio poder ao longo dos últimos quarenta anos.
Da mesma forma, quero promover junto das instâncias do poder legislativo e executivo, a reconversão da Justiça, que não é tão independente como seria desejável num estado de direito. Acima de tudo, defendendo os imperativos da vida humana que, num binómio de lucros/percas, deixou de ter qualquer valor intrínseco. A vida humana que, perante a alta finança, a invisível mão que domina os destinos do mundo, está simplesmente balizada entre consumidores/produtores, numa das vertentes. E excedentários na outra.
Por excedentários leia-se dispensáveis.
Por excedentários, leia-se, inúteis. Populações inteiras sem terra, nem pátria nem «préstimo». Idosos que teimam em não morrer, arrumados a eito e em segredo em câmaras de extermínio lentas chamadas lares clandestinos ou oficiais. Desabrigados. Desempregados. Pobres. Crianças de ninguém. Órfãos de pai e mãe ou da sorte.
É por todos estes motivos que pretendo fazer do Magistério Presidencial um farol de novos rumos, buscando inspiração, alento e apoio no melhor que a sociedade civil tem vindo a conseguir, não só em Portugal mas também noutros países. Promovendo as redes de solidariedade de vizinhança, que estão a emergir por todo o lado. Promovendo a procura e divulgação das novíssimas soluções que emergem de todo o lado, onde a criatividade rasga horizontes e abre caminhos plenos de futuro, como resposta aos novíssimos desafios.
Vamos transformar o Palácio de Belém numa sede de almas livres e sonhos soltos.Num enclave de artistas: poetas, da palavra e da acção; poetas das ciências, das artes, dos ofícios. Guardadores da memória. Não tenhamos medo das palavras. Só os visionários, que vêm muito mais longe, e têm os olhos postos no futuro, conseguem mudar o mundo.
Vamos reequacionar o peso, económico, político e social de uma instituição que deve ser modelar. Inspiradora. Polarizadora. Geradora de movimentos de libertação pessoal e colectiva. Uma casa onde a Arte seja bem-vinda, e onde artistas e demais pensadores criadores se sintam em casa. O Palácio de Belém.
DEFENDO
A mudança. Qual?
Numa visão alargada da sociedade, defendo a Educação e a Cultura ao alcance de todos, veículos principais do desenvolvimento maior, que é a Liberdade de pensar. Logo de agir. Logo de encontrar soluções, saídas, pontes e novos caminhos.
Defendo a mudança de paradigma histórico – nos moldes em que todos teremos uma palavra a dizer sobre o que a todos pertence. Porque para os novos problemas existem soluções novas. É preciso olhar o quadro sob uma nova perspectiva e percebermos que a cidadania só é exemplar quando se faz do envolvimento de todos.
Defendo os direitos dos animais e da natureza – que devem ter protecção, dignidade moral e jurídica. Porque são seres e não coisas. Porque partilham connosco a casa única de todos nós, a Terra. Porque são inocentes. Ao contrário de quase todos nós.
Defendo a reinvenção da política, a renovação dos seus agentes, a construção de caminhos onde a inclusão é o Caminho, e a economia perca o seu peso ditatorial e escravizante para se tornar um instrumento inteligente e solidário de partilha de recursos entre todos.
Defendo a reintrodução das palavras fundamentais no discurso do poder:
– Solidariedade para com todos os seres.
– Ética, em todos os momentos das nossas vidas.
– Empatia: na nossa relação com os animais, com a natureza e uns com os outros.
E isto, sem deixar de manter um olhar lúcido e intransigente sobre a Casa de Todos, o Parlamento, onde se decidem os destinos do país. Uma Casa onde, nas últimas décadas, muito poucos têm conseguido o inimaginável – tirar Portugal aos portugueses.
Como consegui-lo?
Através de um magistério de influência. Através da atenção que nos irão merecer todos os trabalhos e suas conclusões apresentadas sob a forma de decretos-lei que poderei ou não aprovar. Através do diálogo com as forças vivas da Nação. É que estou firmemente convicta de que somos muitíssimo mais do que julgamos ser. E do que se pensa que somos. Nós os que acreditamos que a justiça é possível, e que a ética é desejável na prática dos quotidianos mais modestos às cimeiras do poder instituído e de todas as suas estruturas. Acredito que somos muitas dezenas milhares de portugueses a desejar o mesmo, mas que não se enquadram nas instituições conhecidas, nem se revêm nos representantes que não dão voz, nem corpo, a estes legítimos anseios.
Anseios que eu, Manuela Gonzaga, candidata à mais alta magistratura da nação, venho defender e defenderei publicamente por todos os meios ao meu alcance.
Porque acredito que todos os problemas trazem consigo a chave da própria solução.
Porque acredito na mudança.
E na Liberdade. Incondicional.
Manuela Gonzaga
Lisboa, 1 de Julho de 2015
Para acompanhar:
http://manuelagonzagapresidenciais.com